Ironia

Saíram tarde do cinema, pegaram a última sessão. Ela sugeriu pegarem um táxi, que os deixaria na porta de casa, cada um na sua. Ele, que morava ali perto, disse que não havia necessidade. Colocaria-a no ônibus e logo ele também iria embora. Ela não discutiu mais.

Enquanto esperavam o ônibus debateram o filme, entre gargalhadas e beijos discretos, até que o coletivo veio para atrapalhá-los. Ela fez sinal para que parasse, deu um último beijos de despedida e subiu. Pela janela, conseguiu mandar um tchau e um beijo, antes que o veículo arrancasse.

Mas, então, ficara preocupada com o namorado. Já passava da meia noite e a cidade não andava muito segura. Via todos os dias meia dúzia de ocorrências no jornal, vários assaltos, principalmente naquele horário. Por mais que o bairro do namorado fosse tranquilo, sempre restava um tantinho de paranoia no fundo da mente.

Preocupada, pegou o celular e ligou para o namorado. Um toque, dois toques…

– Oi, Mô – ele atendeu – Tudo bom? Aconteceu alguma coisa?

– Não, só fiquei preocupada. Toma cuidado na rua…

Ele riu da inocência dela.

– Não se preocupe, por essas bandas não acontece nada.

– Eu sei, mas toma cuidado.

Se fosse para deixá-la mais tranquila:

– Pode deixar, eu vou toma… – um barulho estranho do outro lado da linha – Ei! – a voz do namorado ao fundo – Volta aqui! Devolve! Esse celular é meu!

 

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